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domingo, 21 de outubro de 2012

António Quadros -Os séculos foram passando...

Texto fabuloso, de António Quadros, este excerto que passo a transcrever. Pelo que sentiu, pensou e disse sobre Sintra, aqui vai a minha singela homenagem, por altura do 20º Aniversário da sua morte. Se o conhecimento não me falta, ainda está para ser feita a justa homenagem eterna ao homem que amou Sintra como um Mundo diferente.


"De Cíntia, como lhe chamavam os gregos e os túrdulos, deriva o nome de Sintra. Cíntia era então, para sábios e poetas, o promontório da lua. O promontório da lua! Fantástica, misteriosa designação... Que realidade escondida, que verdade ignorada entreviram, lucidamente, os nossos longínquos antepassados? Nada ficou escrito, e a tradição oral não conserva vestígios dos reines sonhados, dos caminhos pressentido-os. Os séculos foram passando e, pouco a pouco, os homens foram destruindo implacavelmente os velhos mitos. Não importa. Nós sentimos, nós sabemos que só eles tinham razão, que Sintra não é um lugar como outro qualquer, que Sintra caiu entre nós por qualquer morta aventura, que Sintra não nos pertence, e nós não a merecemos porque não cremos na sua estranha origem. Condições climatéricas, natureza do terreno, constituição geológico ? Mentira, horrível mentira! A força que alimenta os fetos, erguendo-os até ao céu, e dando-lhes natureza de Piore, a seiva que oferece às flores tão belos e variados matizes, as mil tonalidades do verde, a harmonia duma paisagem em que os rochedos e os penhascos se conjugam com as camélias e com os cisnes brancos, o sangue que palpita nas veias da serra de Sintra, vêm da lua, da nuvem, de toda a parte, menos deste mundo.
Os que amam Sintra, os adeptos da sua doce religião pagã, sabem-no bem. É um mundo diferente, onde a beleza é o ar que se respira, e a poesia é a própria respiração. Este ponto fresco do vale, em que o olhar sobe, trepando a vegetação da montanha, atravessando as paredes frias do Palácio da Pena e perdendo-se ao longe, para lá do dia e da noite; aquele panorama do Castelo dos Moiros em que, sentados nas ameias gastas da muralha, avistamos o mar confundido com o céu; aquele outro lugar onde o Paço Real de Sintra, pesado de história, se esconde por detrás dum muro inteiramente coberto de musgo velho ou o momento irreal em que a vista da serrania, com o céu, a floresta, e a rocha, o cheiro húmido da erva medrando em todo o lado, o fino som da água caindo da fonte e das aves cantando nas copas das árvores, se transformam numa única sensação, nova, selvagem e indiferenciada, nada disso pode fazer parte da nossa humanidade." In AntónioQuadros.blogspot.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

MAGRUGADA, de Maria Almira Medina, um livro inspirador.


A Maria Almira Medina sempre ajudou os mais jovens e menos jovens, herança do pai com a seriedade da mãe. A Maria Almira sempre escreveu com uma visão cultural e crítica. A Maria Almira Medina sempre foi à frente e desde muito cedo. O livro Madrugada, publicado por amigos do Porto em 1956, na clandestinidade, voltou a ver luz pela mão de um antigo aluno e amigo Carlos de Melo, que quis que fosse editado pela Sintrense Casa das Cenas -Educação pela Arte, Associação, onde sempre deu a mão e que é "Madrinha". Em boa hora a SELENE - Culturas de Sintra, do poético Jorge de Menezes, entre outros, apresenta a Madrugada de Maria Almira Medina, a outros públicos, numa época em que o sonho e a esperança não pode deixar de comandar a vida.
Esta singela homenagem vem fazer jus à grandeza de uma escritora, pedagoga e artista plástica a nivel Mundial.  Bem hajam a todos os possibilitam dar um contributo na divulgação da poesia e poetas portugueses. O texto que transcrevemos a seguir é da responsabilidade de um jornalismo independente, SELENE, enviado por net como meio de divulgação da sessão de apresentação.
"A noite paira no mundo... isto vem num poema de Maria Almira Medina, escrito na década de 1940, mas não é hoje verdade também que a noite do pesadelo capitalista paira no mundo como a sombra de um horrendo animal moribundo, só capaz de gerar monstruosas diferenças sociais, injustiça, e
toda uma série de patologias associadas à profunda depressão que se vive? Como cortar a cabeça à horrível hidra? Como transformar o velho homem num homem novo, aquele visionado, desejado, anunciado pelos homens mais sábios da humanidade há muito tempo já, mas que teima em não surgir? Questões que pareciam arrumadas por um primário capitalismo triunfante, manifestam-se de novo com toda a acuidade. Neste ambiente que vivemos, o livro de poemasMadrugadade Maria Almira Medina, publicado clandestinamente em 1956, e vindo à luz em 2011 pela mão da sintrense Casa das Cenas, é um foco de luz no meio das espessas trevas que nos rodeiam. Porque precisamos de livros que nos falem de esperança, que despertem em nós a capacidade de idealizarmos um mundo melhor para vivermos. Selene - Culturas de Sintra debruça-se nesta edição do Outono de 2012 sobre
um único livro, um livro à procura do seu tempo histórico, um livro em demanda do seu lugar na história da poesia portuguesa. É o nosso contributo para que se realize justiça. (....) Fiéis à nossa matriz, continuamos a privilegiar uma visão cultural e crítica, e a firme defesa de um jornalismo independente."
Bem hajam a todos os que possibilitam dar um contributo na divulgação da poesia e dos poetas portugueses, bem como da poetisa maior sintrense Maria Almira Medina. Posted by José A.S. Figueira