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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Caro amigo João Paulo Aguiar

Caro amigo,

Ontem recebi um telefonema e uma mensagem dos serviços culturais da Cãmara Municipal de Sintra a dar a notícia que o teu corpo estava de partida. Não foi uma boa notícia, mas os teus colegas/amigos de trabalho não esqueceram de avisar os colegas e amigos das artes. Sabia que andavas na luta para voltar à normalidade, mas... Com as pressas da vida, nunca me preocupei, é verdade, em saber mais pormenores sobre a tua saúde, porque hoje em dia é perfeitamente normal passar umas "férias" forçadas no hospital e depois voltar à rotina.
Segundos após receber o telefonema, lembrei-me que em vai fazer um ano que me ajudas-te no Museu Ferreira de Castro, a preparar o som e a luz para o Cata-Sons, espectáculo de luz, musica e poesia a partir do livro de poesia "Um tempo de Cata-Sol" de Maria Almira Medina. Como sempre foste inescedível.
Mas o espectáculo/ensaio que constatei que eras um profissional, um empreendedor, um verdadeiro tapa-furos, um amigo, aconteceu no Auditório António Silva, no Cacém.
À mais de dez anos, o Grupo Acusa Teatro fez lá o espectáculo/ensaio da Montanha Mágica, no dia Mundial da Floresta. Lembras-te? A luz quase purple muito intimista, o som das vozes e instrumentos estendido pelo auditório, sem ruidos muito percetível: tudo estava perfeito. Para além, da disponibilidade para gravares o ensaio e o espectáculo, de atenderes sempre a mais um capricho meu, dos musicos e actores, do telmóvel que não parava de tocar, da bilheteira, de solicitações do exterior, eu sei lá mais o quê - fazias de tudo, até tomar conta de um Auditório. Esse dia, devo dizer-te, foi muito importante para o grupo. Crescemos. Tinhamos asas para voar para qualquer geografia. E tu, nem parecias o característico funcionário público que em tempos tanto se falou; gostavas do que fazias e fazia-lo sempre a dar o máximo. Por causa do teu empenhamento e humildade conquistas-te a nossa amizade, pertecias ao grupo secretamente - eu e o Cláudio falamos de ti para outros projectos, cheguei a dizer-te creio, mas sabíamos que era difícil compremeteres-te pois, nem sequer tinhas tempo para a familia...- desde esse fantástico dia, cada vez que nos encontravamos era sempre uma enorme satisfação e entusiasmo. Depois desse flash ter passado pela "nossa" memória dos acontecimentos, fui directo à igreija do Algueirão onde o teu corpo saíu para o crematório de Rio de Mouro. Que fiques em paz. É o que eu sei dizer por agora.
Para mim, continuas por cá e a tua memória vai ficar certamente ligada à Montanha Mágica - o espectáculo da vida aos pedaços em formas de cubo e a cores, onde tudo pode acontecer - até fazer lembrar a vida dos seus criadores.
Como dizia o nosso amigo Cláudio, até jazzzz... amigo João Paulo.
Jozé Sabugo, fundador do Grupo Acusa Teatro da Casa das Cenas - Educação pela Arte

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

A dor, a saudade, a busca do intelegível,numa procura de compreender o porquê desse acontecimento; a partida inesperada...tanto que ficou por dizer...tudo o que ficou por viver; a revolta, a tristeza, o desespero, o pesadelo. Foi neste "quadro", que a minha filha Rosa Maria, companheira do João Paulo e mãe do pequeno João Paulo, agora com oito anos, encontrou a homenagem do caro Jozé e companheiros,dedicada ao saudoso João Paulo, há dois dias, precisamente na véspera do aniversário dela.A seu pedido e em meu nome,com muito carinho vai o nosso muito obrigado...o João Paulo "vive" nas pessoas amigas, sensíveis, que vêem e sentem para além do comum, do vulgar. Ao lermos as vossas palavras, ficámos unidas a esse sentimento, que não se explica, apenas se sente, por alguém incomum e extraordinário que tocou as nossas vidas. Bem hajam
Rosa Maria Sobral (mãe) 15/6/2011