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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Maria Almira Medina faz hoje 92 anos


A Maria Almira faz hoje anos.
Noventa e dois anos para ser mais claro e preciso.
Quando à pouco lhe liguei a dar os parabéns, era como se estivesse a começar uma vida nova.
Era a primeira vez que dava os parabéns a alguém com esta bonita idade. Não cabia de contente.
E assim, que ouvi a sua voz, feliz e contente, lancei os olhos para o futuro e pensei: Que fantástico será dar-lhe os parabéns no próximo dia anos. Já há um ano, tive a sensação de estar a começar algo de novo. Sintra no fim do crespúculo dava o mote. Sempre deu o mote e a Maria Almira muito ajuda.
Faz parte da familia. Da familia que vai crescendo e já passou o Milénio.
Deste milénio,  e que começam aos poucos a fazer parte da familia de artistas/criadores, são o andré azinheira e o daniel morales, simpáticos, belos e educados rapazes que neste dia, 29 de Agosto de 2012, no dia da Maria Almira, visitaram a Casa das Cenas - Educação pela Arte, querendo saber como podia acompanhar e disfrutar das actividades da mesma.
Para os parabenizar da sua iniciativa e homenagear a aniversariante, disse o poema do Avejão, do Livro Um tempo de Cata-sol da editora de prosa, pesia e teatro Casa das Cenas/Grupo Acusa.

E assim se fez noite de mais uma maravilhoso dia. Dia de aniversário da Maria Almira Medina.

Sintra Memória

Se a memória de Sintra, fosse escrita por faunos, druidas e carpins ou outros ente-deuses do monte da Lua, tudo seria poesia, tudo seria harmonia. Tudo seria vivificado e comtemplado. Mas, entre isso e coisa nenhuma, é bem melhor um texto com dedicatória e à memória de R. Bulhão Pato e de todos os que em cena visitaram esta Sintra Deambulada do Fernando. Obrigado amigo.
Maria Almira Medina na Casa das Cenas na Vila Velha Sintra
Sintra Deambulada
Em espectral viagem, partida, sabendo a serra ao lado, a milenar guardiã e larvar berço de lendas e histórias, de mouros e cristãos, visionários reis e viajantes, aristocratas e feiticeiros, espantados com o renovado verde, em presépio aninhando casas, palácios, fontes e miradouros. Em volta batem ritmos e matizes, surpresas e ilusões, alunos chegam para a escola que recomeça, funcionários para o serviço, senhoras para as compras, reformados para o jardim, agrilhoados contribuintes a prestar o dízimo e utentes contando cêntimos para pagar a água.
Fugindo da selva de intrusivos carros e denudados arrumadores, é a Partida para Shangri-La, deixando para trás os anzóis do Brancana e os seguros do Catarino, a garagem agora azul, a Ideal e o prateado Faria, antes da Vila e dos skaters invadindo a Estefânea da Marrazes e Simões, do Tirol e Monserrate, dos chineses dos alguidares e das velas, e também dos bancos, essas casas de usura predadoras dos fracos.
O Carlos Manuel do povo fechou, e, aristocrático, vestiu roupa nova, casa de ópera e Cadaval, desaparecida plateia de filmes a cinco escudos, do John Wayne ou Cantinflas. E também de Maria João Fontaínhas e Alvim, operários da cultura do tempo em que não era proibido sonhar. Também o casino fechou, sinuosa roleta o entregou em tempos a coleccionadores de metal agora debandados, pálido e amarelecendo.
No trilho da vila, chamado pelo silvar ventoso e perfumado da serra, a Correnteza, miradouro e varanda, parapeito de amores e de pombos, do Larmanjat ninguém já lembra, ondulante e inseguro. Como sempre, passam turistas e mirones, a descobrir o éden terreal, e rostos de muitas estações, baptizados e funerais, festas do cabo e da vila, cúmplices envelhecendo com a serra, fria no Inverno e cacimbada no Verão.
A viagem espectral aproxima-se do burgo, ecoa o som cadente dos cavalos, pretérita lembrança de reis e burgueses, de Maias e Calisto Elói, de Garrett e Zé Alfredo, Anjos Teixeira ou M.S.Lourenço. Vernacular, o torreal município é porta de entrada e fronteira, o leão de pedra o guardião, palpitantes os sentidos à vista da miríade encantada, a curva do Duche, o canelado odor da Sapa, o Valenças e as mansões, a água da fonte mourisca, jorrando cristalina. E o Grande Maior, da feiticeira Llansol, as camélias de Nunes Claro, o Carvalho da Pena cavalgando as nuvens, druida e fauno da serra e dos lagos.
Ofegante chega enfim a vila, utópico altar, lusitano reino dum palpável Parnasso. Não se vêm, mas escutam-se, Maria Almira, Rui Mário, Jorge Menezes, generosos actores de muitas gerações, danças medievais e bailes das camélias, os vitoriosos patins de Raio e Cipriano. E gulosos se saciam os sentidos com segredos de açúcar em orgias do paladar, à sombra tutelar do Paço.
Apurados os sentidos, a escadaria enfim, para hipnotizados mirar o castelo e invisíveis ogres lançando caldeirões de azeite, catalépticas bruxas invadindo a noite em invisíveis vassouras, e em ruidoso silêncio, escutar os passos dum rei prisioneiro, o ecoar das festas joaninas, Camões lendo para o jovem rei alucinado, a condessa d’Edla e Viana da Mota, acorrendo ao repicar do sino em S. Martinho.
Invisíveis faunos e visíveis heróis, incensados e perdidos, esperançosos e idealistas, tomam lugar enfim no camarote do Tempo, escoltados pela Nação dos Pássaros, as camélias e as fontes todos abraçam, anunciando o lauto festim da noite, à sombra da argêntea Lua.É Cynthia e o seu sortilégio.
Nota: Este texto é dedicado à memória de Raimundo Bulhão Pato, desaparecido do mundo dos vivos em 24 de Agosto de 1912, fez agora 100 anos.
Saudações Amigas do
Fernando Morais Gomes

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Em prol de iniciativas de dinamização, preservação e embelezamento do edificado e do não-edificado sintrense passo a transcrever uma mensagem, do passado 12.08.2012, do projeto cívico Sintra em Ruinas de Filipe de Fiúza. Obrigado.

Amigos Sintrenses,

Dói imenso quando o nosso corpo está aberto em feridas e de dentro de nós jorra sangue vivo, dói demasiado, daquela dor que ultrapassa o inexprimivelmente humano, quando a habitação do nosso ser está minada com um mal encoberto que vai arruinando lentamente a vida. Assim acontece com a nossa querida Vila de Sintra e em geral com o concelho, totalmente corroída por edifícios e casas sozinhas, perdidas, abandonadas, mal tratadas, em ruínas. Por aqui e por ali estão e vão apodrecendo e levando ao mais triste e sorumbático cenário, ora esquecidas por proprietários em fim de vida ou sem vontade nem dinheiro para as recuperar, ora ignoradas pelos cidadãos que diariamente passam e pouco vão almejando mudar na sua ordinária paisagem, ora alheias ao poder local que na inércia dos seus esquemas de interlúdio e burocracias profissionais impossibilitam iniciativas importantes para o embelezamento do edificado sintrense.

Neste projecto cívico Sintra em Ruínas procurámos retratar um pouco da realidade diversa do problema da reabilitação do edificado urbano, histórico e rural evitando como muitos fazem falar ou escrever sem conhecer o terreno e a verdadeira realidade. Durante 7 meses, entre Janeiro e Julho de 2012, percorremos, fotografámos e publicámos as mais variadas casas e edifícios na Vila de Sintra e arredores. Acreditamos que o trabalho realizado é o suficiente para reflectirmos sobre o tema partindo do conhecimento da realidade e podendo de forma mais lúcida propor à sociedade soluções para corrigir o problema, seja ao cidadão, ao proprietário ou ao poder local.
Sejamos melhores cidadãos, lutemos por aquilo que vale a pena, a Vila e o Concelho de Sintra merecem.
Bailarina em risco de Ruir [pintura a óleo] de Ana Clara
 

O espaço da Casa das Cenas - Educação pela Arte, Atelier Mª Almira Medina, na vila velha, é um dos exemplos que a edil Sintrense proporcionou e contribuiu para a dinamização, preservação e embelezamento do edificado sintrense. Mas muito mais há a fazer, isso é uma realidade aos olhos dos de Sintra e dos que a visitam de todo o Mundo.